Descrição
Maria das Graças Silva Nascimento e Silva
Joseli Maria Silva (Orgs.)
Dados técnicos da obra
Edição: 1a
Páginas: 360
Formato: 16 x 23 cm
Peso: 635g
Miolo: papel ofsete 90g, costurado
Capa: cartão supremo 250g, com laminação fosca
Ano de publicação: 2014
ISBN: 978-85-62450-37-2
SUMÁRIO
Prefácio
Lynda Johnston
Apresentação
Maria das Graças Silva Nascimento Silva e Joseli Maria Silva
Introduzindo as interseccionalidades como um desafio para a análise espacial no Brasil: em direção às pluriversalidades do saber geográfico
Joseli Maria Silva e Maria das Graças Silva Nascimento Silva
PARTE I
ESPAÇO, SEXUALIDADES E INTERSECCIONALIDADES
Interseccionalidad y malestares por opresión a través de los Mapas de Relieves de la Experiencia
Maria Rodó-de-Zárate
Por uma análise interseccional (e materialista) da migração queer: levando em consideração o papel dos regimes de bem-estar social
Cesare Di Feliciantonio
Intersecções de poder e cidadania queer na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro
Jan Simon Hutta
Oposições e complementaridades nas práticas homoafetivas de microterritorialização: interações entre ‘bichas’ e ‘bofes’ na Praia do Osso em Santarém – PA
Benhur Pinós da Costa, Jasson Iran Monteiro da Cruz e Josevaldo Sousa de França
As relações homocomerciais em um microterritório: o exemplo de um clube de boys na cidade do Rio de Janeiro
Miguel Ângelo Ribeiro e Rafael da Silva Oliveira
PARTE II
CONHECIMENTO, CORPO, ESPAÇO E INTERSECCIONALIDADES
Contestando o privilégio anglo-americano na produção do conhecimento em geografias das sexualidades e de gêneros
Katherine Browne
Uma abordagem de gênero a partir do microcosmo indígena Paiter Suruí
Almir Narayamoga Suruí, Gasodá Suruí e Adnilson de Almeida Silva
A saúde da mulher negra sob a perspectiva de um novo modelo de compreensão
Sônia Beatriz dos Santos
A geografia do gênero e das sexualidades na produção científica de revistas espanholas
Xosé Manuel Santos-Solla
Mulheres indígenas e suas demandas de gênero
Ângela Célia Sacchi
PARTE III
GÊNEROS EM MOVIMENTO: ESPAÇO, RAÇA, IDADE E CLASSE
Narrativas de viagem, encontro colonial e alteridade: um olhar a partir da Geografia Feminista
María Dolors García-Ramón
Del circuito espacial de la violencia feminicida a la red de prevención y erradicación de ésta
María Verónica Ibarra-García
Homens jovens em conflito com a lei e seus territórios urbanos
Rodrigo Rossi
Topografias da violência e as performances de masculinidade de jovens do sexo masculino com envolvimento com as drogas em Ponta Grossa – PR
Fernando Bertani Gomes
Gênero, raça e espaço: uma abordagem da trajetória de mulheres negras
Alex Ratts
Sobre as autorias
PREFÁCIO
O ‘lugar’ importa para a produção de conhecimento geográfico. Lugar é uma categoria fundamental de análise para geógrafos e ali existe uma crescente literatura sobre perspectivas internacionais comparativas no que diz respeito à produção de geografias queer, feminista, social e cultural. Dirigindo-se ao desenvolvimento da geografia feminista, Janice Monk (1994, p. 277) afirma:
Apesar dos pontos em comum… Diferenças nacionais existem na medida em que a geografia feminista se desenvolveu, e em suas abordagens e ênfases. Até o momento, pouca atenção sistemática tem sido dada a essas diferenças ou para conexões específicas entre os lugares, mesmo que lugar seja uma categoria fundamental de análise para geógrafos.
O livro Interseccionalidades, gênero e sexualidades na análise espacial’ é prova da diferença que lugar faz para a construção de saberes geográficos queer e feministas. Este livro reúne pesquisas que vão além de discursos geográficos anglo-americanos, e localiza ─ ao centro do palco ─ saberes queer ‘em’ e ‘sobre’ Brasil, Espanha, Catalunha, e México.
Conforme Berg e Kearns (1998, p. 129) observam, geografias do “Reino Unido e Estados Unidos não são marcadas por limites ─ elas constituem o campo da geografia… Por outro lado, geografias de outras pessoas e lugares [como geografias brasileiras] tornam-se marcadas como Outro ─ exótico, transgressivo, extraordinário”. Esta questão foi retomada por geógrafos preocupados com países não anglófonos (ver também, por exemplo, DESBIENS e RUDDICK, 2006; GARCÍA-RAMÓN et al., 2006; GREGSON et al., 2003.). Enquanto tendências internacionais são importantes, elas também podem mascarar o desenrolar dos acontecimentos de diferentes maneiras em “outros” lugares. Muitas vezes, o que os cronistas descrevem como internacional são tendências de fato associadas com a América do Norte e o Reino Unido. Os autores deste livro registram suas distâncias de outros lugares, e é a partir deste lugar que eles são capazes de problematizar as tendências de homogeneização de grandes narrativas.
Estou animada com este livro e sua atenção à produção de geografias generificadas e sexualizadas para além de lugares e espaços anglo-americanos. Alguns anos atrás, Robyn Longhurst e eu escrevemos sobre sexualidade e espaço de investigação e de ensino estabelecidos na Nova Zelândia e Austrália (JOHNSTON e LONGHURST, 2008; ver também LONGHURST e JOHNSTON, 2005). Notamos que a Australásia está posicionada simultaneamente como local e global. Nossos anglófonos países da Australásia estão intimamente ligados às mais amplas ideias (predominantemente) ocidentais e nossa pesquisa muitas vezes sai em publicações anglo-americanas. Contudo, é claro que nosso ensino e nossa pesquisa sobre sexualidade e espaço são incorporados em, e respondem a, questões da Austrália e Nova Zelândia. Estes conhecimentos únicos localizados são tanto informados pelas tendências internacionais quanto apoiadores delas.
Uma das dificuldades enfrentadas pelos geógrafos que trabalham com gênero e sexualidade na América Latina é que o número de estudiosos ainda é muito pequeno. Recentemente, no entanto, a Comissão da União Geográfica Internacional sobre Gênero e Geografia sediou a bem-sucedida conferência latino-americana inaugural “Espaço, Gênero e Poder” na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, no Brasil, de 8 a 11 de novembro de 2011. Foi organizada pela Dra. Joseli Maria Silva e pelo Dr. Augusto Cesar Pinheiro da Silva, e a conferência atraiu cerca de 50 representantes locais, bem como representantes de uma série de países, incluindo Argentina, Israel, Nova Zelândia, Portugal, Espanha, Uruguai, Reino Unido, Suíça e Estados Unidos. Estes tipos de reuniões são cruciais para networkings formais, contribuindo para debates internacionais, e estendendo-os.
Interseccionalidades, gênero e sexualidades na análise espacial’ é outra incursão no pensar sobre como o lugar importa na produção do conhecimento geográfico de gênero e sexualidade. Tenho esperança de que a pesquisa nestas páginas venha contribuir para debates não só sobre as particularidades de espaço, lugar, gêneros e sexualidades, mas de forma mais ampla sobre a direção futura de conhecimentos geográficos queer e feminista.
Lynda Johnston
Referências
BERG, L; KEARNS, R. America unlimited. Environment and Planning D: Society and Space, v. 16, n. 2, p. 128-32, 1998.
DESBIENS, C.; RUDDICK, S. Speaking of geography: language, power and the spaces of Anglo-Saxon hegemony. Environment and Planning D: Society and Space, v. 24, n. 1, p. 1-8, 2006.
GARCÍA-RAMÓN, María-Dolors; SIMONSEN, Kirsten; VAIOU, Dina. Guest editorial: Does anglophone hegemony permeate Gender, Place and Culture? Gender, Place & Culture, v. 13, n. 1, p. 1-5, 2006.
GREGSON, Nicky; SIMONSEN, Kirsten; VAIOU, Dina. Writing (across) Europe: on writing spaces and writing practices. European Urban and Regional Studies, v. 10, n. 1, p. 5-22, 2003.
JOHNSTON, Lynda; LONGHURST, Robyn. Queer(ing) geographies ‘down under’: some notes on sexuality and space in Australasia. Australian Geographer, v. 39, n. 3, p. 247-257, 2008.
LONGHURST, Robyn; JOHNSTON, Lynda. Changing bodies, spaces, places and politics: feminist geography at the University of Waikato. New Zealand Geographer, v. 61, n. 2, p. 94-101, 2005.
MONK, Janice. Place matters: comparative international perspectives on feminist geography, The Professional Geographer, v. 46, n. 3, p. 277-288, 1994.
APRESENTAÇÃO
Em 2011 realizamos o I Seminário Latino-Americano de Geografia e Gênero, no Rio de Janeiro, com o tema Espaço, Gênero e Poder: Conectando Fronteiras. Naquela época, estávamos lutando pela conquista e legitimação das análises de gênero no campo científico da geografia brasileira. Nesse sentido, o desenvolvimento da temática do poder e da superação de limites para o estabelecimento de conexões conceituais era bastante pertinente. Por ocasião da plenária final deste evento, duas importantes críticas foram realizadas pelos pesquisadores. A primeira era de que as sexualidades deveriam aparecer no título do evento, já que o gênero não determina o desejo e as suas formas de expressão corporal. A segunda crítica foi o pequeno protagonismo da raça enquanto componente das relações de gênero, notadamente na sociedade brasileira, profundamente marcada pela diversidade e desigualdade racial.
Certamente as críticas eram pertinentes, e os desafios colocados serviram de base para mudar os rumos até então seguidos e construir uma abordagem de gênero mais complexa, envolvendo as sexualidades e também as racialidades. O Grupo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Mulher e Relações Sociais de Gênero da Universidade Federal de Rondônia, durante a plenária final, colocou-se como interessado em sediar o seminário seguinte. Assim, este lugar, Porto Velho, localizado na região norte do Brasil, foi perfeito para inspirar o tema do II Seminário Latino-Americano de Geografia, Gênero e Sexualidades. Escolhemos o tema Interseccionalidades, Gênero e Sexualidades na Análise Espacial para poder incluir as questões raciais, a diversidade e a desigualdade como elementos fundamentais na construção de caminhos analíticos capazes de compreender a realidade socioespacial brasileira.
A geografia que envolve interseccionalidades, gênero e sexualidades nos desafia ao dialogo, à reflexão e à troca de saberes e conhecimentos sobre as configurações espaciais e as complexidades do viver em tempos atuais. A realização do I Seminário apresentou a necessidade de ampliarmos o diálogo, de nos conectarmos aos saberes dos mais diversos lugares, das mais diversas culturas, das mais diferentes formas de se organizar, sentir e viver que o ser humano desenvolve. Assim, atendendo ao chamado da dinamicidade do viver de nosso tempo, chegamos ao II Seminário Latino-Americano de Geografia, Gênero e Sexualidades: Interseccionalidade, Gênero e Sexualidades na Análise Espacial.
O livro é o resultado de uma trajetória de busca de formulação de respostas concretas às críticas estabelecidas pelos pesquisadores presentes na plenária final da primeira edição do Seminário, que reivindicavam uma ampliação da complexidade da abordagem da relação entre espaço e gênero na geografia brasileira. Logicamente, não se encontram aqui soluções definitivas, já que nós mesmas compartilhamos da ideia de que as respostas capazes de serem produzidas em um determinado campo científico são sempre provisórias, circunstanciais e posicionadas.
Organizamos três caminhos de discussão neste Seminário, que acabaram compondo as partes internas do livro. Na primeira parte do livro, Espaço, Sexualidades e Interseccionalidades, é evidenciada a relevância das variadas formas de sexualidades em sua intersecção com gênero, raça, classe e nacionalidade, instituindo espacialidades plurais desta relação. A sexualidade é vivenciada corporalmente, e esta perspectiva estabelece campos de poder em que corpos são significados, classificados, hierarquizados e também resistentes à ordem social e espacial estabelecida. A segunda parte do livro, Conhecimento, Corpo, Espaço e Interseccionalidades, é composta por textos que questionam a produção do conhecimento e as suas manifestações hegemônicas, que tornam invisíveis determinadas visões de mundo, notadamente aquelas produzidas por grupos ou sujeitos cujo poder de enunciação é negado nas estruturas de organização do saber científico. A terceira parte, Gêneros em Movimento: Espaço, Raça, Idade e Classe, reúne algumas perspectivas que complexificam as vivências dos sujeitos generificados, a partir de suas interrelações com outras categorias identitárias, com o objetivo de evidenciar que para dar visibilidade às diferenças é necessário compreender que as feminilidades e as masculinidades não são categorias universais, mas em pleno movimento espaço-temporal.
Este livro, mais do que o registro histórico do encontro científico, é um convite ao desafio de ir além da construção da visibilidade de sujeitos cujas existências espaciais são interceptadas por vários eixos de opressão, mas também de construir caminhos analíticos que provoquem, renovem e instiguem a criação de categorias analíticas da análise espacial.
Maria das Graças Silva Nascimento Silva
Joseli Maria Silva
SOBRE AS AUTORIAS
Adnilson de Almeida Silva (adnilsonn@gmail.com)
Doutor em Geografia pela Universidade Federal do Paraná. Atua nos programas de pós-graduação Mestrado em Geografia e Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da Universidade Federal de Rondônia. É vice-coordenador do grupo de pesquisa GEPCULTURA/UNIR e atua como colaborador na ‘Kanindé’ Associação de Defesa Etno-Ambiental, bem como no Centro de Estudos da Cultura e do Meio Ambiente da Amazônia – Rioterra.
Alex Ratts (alex.ratts@uol.com.br)
Professor da Universidade Federal de Goiás, nos cursos de graduação e pós-graduação em Geografia e mestrado em Antropologia. Coordenador do Laboratório de Estudos de Gênero, Étnico-Raciais e Espacialidades do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (LaGENTE/IESA/UFG).
Almir Narayamoga Suruí (almirsurui@gmail.com)
Professor do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Geografia/UNIR. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Geografia pela Universidade Federal de Rondônia. Trabalha como consultor da Associação de Defesa Etnoambiental, com ênfase em estudos sobre terras indígenas, paiter suruí e gestão território.
Ângela Célia Sacchi (acsacchi@yahoo.com.br)
Pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Goiás. Tem explorado temas sobre etnologia indígena e antropologia de gênero, especificamente sobre a organização política e direitos das mulheres indígenas, violência contra mulheres indígenas, políticas públicas e povos indígenas.
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