Descrição
Joana Maria Pedro
Artur Cesar Isaia
Carmencita de Holleben Mello Ditzel (Orgs.)
Edição: 1ª.
Páginas: 320
Formato: 16 x 23 cm
Peso: 600g
Miolo: papel ofsete 90g/m2
Capa: cartão supremo 250g, com laminação fosca
Acabamento: costurado
Ano de publicação: 2011
ISBN: 978-85-62450-22-8
Sumário
Prefácio
Relações de Gênero e Feminismo
Subjetividade, Feminismo e Poder, ou Podemos ser outras?
Margareth Rago
Machismo e feminismo nas trajetórias de militantes da esquerda armada no Cone Sul dos anos 1970: um olhar do exílio
Cristina Scheibe Wolff
O feminismo que veio da França
Joana Maria Pedro
A subjetividade sexual e as revistas femininas e masculinas na década de 1970
Roselane Neckel
Religiosidades
Mitos das origens das nacionalidades: o caso português no âmbito da afirmação das nacionalidades europeias na modernidade
José Eduardo Franco
Espiritismo: as imprevisibilidades do discurso
Artur Cesar Isaia
História, subjetividade e conhecimento
Valmir Francisco Muraro
O fim da posteridade prometida: um estudo sobre a ética católico-desenvolvimentista após a Segunda Guerra Mundial
Rogério Luiz de Souza
Espaço urbano, memórias e sensibilidades
Entre lágrimas e cebolas, uma longa história
Denise Bernuzzi de Sant’Anna
Subjetividades mutantes: o “viver jovem” em Florianópolis nos anos 70: sentimentos e…
Cynthia Machado Campos
O registro da subjetividade numa nova ordem urbana: técnica, cinema e sociedade na literatura de João do Rio
Hermetes Reis de Araújo
Iluminismo e Romantismo: linhas mestras para pensar o Brasil
Márcia Regina Capelari Naxara
Sob o signo da subjetividade: o conflito de interpretações
Cléria Botelho da Costa
Memória, subjetividade e conflitos ambientais no Acre: o encontro do “boi” com o “seringueiro” (1960/1998)
Marcos Fábio Freire Montysuma
Um filho de imigrantes “genuinamente brasileiro”
Rosângela Wosiack Zulian
Referências bibliográficas
Sobre os autores e organizadores
Prefácio
Este livro surgiu do diálogo científico de docentes e pesquisadores que fazem parte da Linha de Pesquisa “Relação de Poder e Subjetividades”, do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina. A esse grupo somaram-se outros profissionais com idêntica preocupação, oriundos de diferentes instituições de ensino superior. O que une os profissionais reunidos nesta obra é, sobretudo, a preocupação com a dimensão política da subjetividade. As indagações que orientaram os textos que integram o livro remetem, em suas peculiaridades, para o reconhecimento do caráter social e político que preside a formação, a transformação e as interpelações das subjetividades. Poder e subjetividades aparecem como indissociáveis nos trabalhos aqui reunidos, como constantes históricas. Os exercícios das múltiplas formas de poder são vistos conectados com os processos pelos quais as subjetividades emergem e são capazes de decisões políticas nos âmbitos público e privado da existência.
O livro está dividido em três partes. Inicialmente, os capítulos versam sobre relações de gênero e feminismo, depois, focalizam religiosidades e, por fim, são centrados no espaço urbano, na memória e nas sensibilidades. Todos interrogam sobre a maneira como as subjetividades são constituídas em diferentes relações e nos diversos espaços.
Iniciando a discussão sobre as relações de gênero e feminismo, o primeiro capítulo historiciza genealogicamente a categoria da identidade, problematizando a emergência e questionando a proveniência. É isso que realiza Margareth Rago, no texto “Subjetividade, Feminismo e Poder, ou Podemos ser outras?” Usa como referência teórica as discussões de Foucault, Judith Butler, Rosi Braidotti e Tânia Swain, entre outros. Questiona, principalmente, amparada em Foucault, sobre o porquê de a identidade estar centrada no sexo, e mais: juntamente com este filósofo, escandaliza-se com o foco que a modernidade colocou sobre o sexo.
Nas décadas de setenta e oitenta, nos diversos países do Cone Sul que viveram ditaduras militares, várias mulheres envolveram-se em luta armada; algumas delas se tornaram feministas. Esta é a temática de Cristina Scheibe Wolff, no capítulo “Machismo e feminismo nas trajetórias de militantes da esquerda armada no Cone Sul dos anos 1970: um olhar do exílio”. A maneira como se deu esse envolvimento com a luta armada e a forma como lidaram com o machismo dos companheiros são o principal enfoque.
Até que ponto os feminismos que vieram da França promoveram novas subjetividades no Brasil é a questão de Joana Maria Pedro no capítulo “O feminismo que veio da França”. Focaliza a maneira como o contato com o feminismo francês, vivido principalmente pelas pessoas que se exilaram na França, repercutiu nos textos de periódicos e manifestos dos feminismos no Brasil.
Através de artigos publicados em revistas, Roselane Neckel, no capítulo “A subjetividade sexual e as revistas femininas e masculinas na década de 1970”, focaliza as novas exigências de como ser homem e mulher. Reflete sobre a interferência da divulgação que se fazia sobre a sexualidade, o prazer e o orgasmo, além da maneira como novas subjetividades foram sendo constituídas.
Abrindo o setor sobre religiosidades, José Eduardo Franco focaliza a construção identitária, desta feita em Portugal, no capítulo “Mitos das origens das nacionalidades: o caso português no âmbito da afirmação das nacionalidades europeias na modernidade”. Neste capítulo o autor reflete sobre a literatura mítica do quinhentista Fernando de Oliveira, que relaciona a busca mítica das origens portuguesas com a perda da independência portuguesa em 1580, dando origem ao período filipino. Esta construção identitária apela, segundo o autor, para conteúdos essencialmente teológicos que embasavam a historiogênese portuguesa.
Como discurso, como agente disponível na criação de subjetividades, o espiritismo é tratado por Artur Cesar Isaia no capítulo “Espiritismo: as imprevisibilidades do discurso”. O autor enfoca o espiritismo como objeto discursivo, capaz de trair a racionalidade anunciada pela doutrina. Assim, o discurso espírita tendeu a uma leitura historicamente combinatória, tanto na Europa quanto, de maneira bem mais visível, no Brasil dos séculos XIX e XX. O espiritismo não se vincularia apenas às luzes, à república, à tríade revolucionária. Modernidade e tradição nele coabitariam, como realidades tensionais.
A discussão sobre o alcance epistemológico da narrativa histórica é a preocupação de Valmir Francisco Muraro, no capítulo “História, subjetividade e conhecimento”: A História é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de ‘agoras’, que se inclui entre os olhares contemporâneos à crítica dos modelos macroexplicativos. Aborda a importância da linguagem na escrita da história, canal de acesso ao passado, de percepção e de representação da realidade.
O projeto de uma democracia cristã no pensamento católico após a Segunda Guerra Mundial é o assunto estudado por Rogério Luis de Souza, no capítulo “O fim da posteridade prometida: um estudo sobre a ética católico-desenvolvimentista após a Segunda Guerra Mundial”. O autor procura ver, nos escombros de um mundo que solapa as motivações para repensar-se, a ética burguesa do trabalho, a configuração da sociedade e as fórmulas políticas. Assim, a Igreja Católica passa a apostar em um capitalismo expurgado de seus vícios, propondo um desenvolvimentismo que, longe do revolucionarismo, deveria instaurar a harmonia internacional.
A terceira parte do livro versa sobre espaço urbano, memórias e sensibilidades. Focalizando, além dos gostos, lágrimas e a atual espetacularização das cozinhas e da arte de cozinhar, o capítulo de Denise Bernuzzi de Sant’Anna, intitulado “Entre lágrimas e cebolas, uma longa história”, tem como mote a notícia da criação de uma cebola transgênica, que não mais provocaria lágrimas ao ser cortada.
Preocupada com as relações urdidas entre as transformações urbanas apresentadas pela cidade de Florianópolis dos anos 1970 e as construções, desconstruções e reconstruções de subjetividades, Cynthia Machado Campos, no capítulo “Subjetividades mutantes: o ‘viver jovem’ em Florianópolis nos anos 70: sentimentos e…”, enfoca um quadro urbano em acentuada transformação. Uma cidade e uma população que não mais se conformavam com o estabelecido e repetitivo, ensaiando novas percepções de si, do outro e do mundo. A partir dos jornais da época, a autora acompanha as transformações aceleradas, marcadas pelo inconformismo e pela intensificação dos contatos com turistas e adventícios.
A cidade aparece, também, na contribuição de Hermetes Reis de Araújo, no capítulo “O registro da subjetividade numa nova ordem urbana: técnica, cinema e sociedade na literatura de João do Rio”. Desta feita, o Rio de Janeiro do começo do século XX, enfocado a partir do olhar ambivalente de João do Rio. A cidade e a literatura aparecem como registros de novas formas de sociabilidades e de produção de subjetividades. Nessa perspectiva, insere-se o que o autor denomina “literatura cinética”, capaz de acompanhar o dinamismo das transformações sociais, valorizando as reportagens e as crônicas, nas quais os habitantes da cidade são enfocados em situações de fugacidade.
A importância da sensibilidade romântica e iluminista na percepção do processo histórico brasileiro e seu papel constitutivo na historiografia, na literatura e na tomada de consciência do Brasil como nação são enfocados por Márcia Regina Capelari Naxara, no capítulo “Iluminismo e Romantismo: linhas mestras para pensar o Brasil”. A autora aborda a presença do romantismo, extrapolando o século XIX e se atualizando hoje, no pensar brasileiro sobre suas “raízes e caminhos”. Essa atualidade da percepção romântica é relacionada pela autora a “algumas fórmulas ambientalistas tão em foco”, o que confere ao romantismo um papel ainda importante para pensar e expressar o Brasil.
Através da análise do depoimento de um narrador do MST, Cléria Botelho da Costa, no capítulo “Sob o signo da subjetividade: o conflito de interpretações”, discute as possibilidades da interpretação e as múltiplas subjetividades. Focaliza os confrontos interpretativos que são evidenciados na maneira como a interpretação da pesquisadora é questionada pelo próprio depoente.
Focalizando as pinturas de Hélio Melo e os discursos e entrevistas de Chico Mendes, Marcos Fábio Freire Montysuma, no capítulo “Memória, subjetividade e conflitos ambientais no Acre: o encontro do ‘boi’ com o ‘seringueiro’ (1960/1998)”, discute conflitos ambientais no Acre.
A figura de Dom Antonio Mazzarotto, bispo de Ponta Grossa (PR) pelo longo período de 1930 a 1965, é o principal tema de Rosângela Wosiack Zulian, no capítulo “Um filho de imigrantes ‘genuinamente brasileiro’”. Procura, entre “não ditos” ou entre os “ditos implicitamente”, pistas que levem o historiador a compreender a subjetividade deste bispo, não se contentando com a versão explícita das crônicas eclesiásticas. Com isso, a autora, a partir de Ginzburg, busca combinar “verdadeiro e verossímil, provas e possibilidades”.
Joana Maria Pedro
Artur Cesar Isaia
Carmencita de Holleben Mello Ditzel
Sobre os autores e organizadores
Artur Cesar Isaia ─ arturci@uol.com.br
Pesquisador do CNPq, graduado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e doutor em História Social pela Universidade de São Paulo. Desenvolveu estágio de pós-doutoramento na EHESS, Paris. Atualmente é professor da Universidade Federal de Santa Catarina. É um dos coordenadores do Laboratório de Religiosidade e Cultura (LARC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil República e Teoria e Filosofia da História, pesquisando principalmente os seguintes temas: discurso religioso, catolicismo, espiritismo, umbanda.
Carmencita de Holleben Mello Ditzel ─ phditzel@uol.com.br
Professora do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR). Doutora em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina, publicou Imaginários e representações: o integralismo nos Campos Gerais (2007) e tem participações em coletâneas. Atualmente desenvolve pesquisa na área de História Política.
Cléria Botelho da Costa ─ cleriabotelho@gmail.com
Professora Adjunta do Departamento de História da Universidade de Brasília, em nível de graduação e de pós-graduação. Coordena o Núcleo de História Oral e Memória da Universidade de Brasília e integra o Comitê Cientifico da Associação Latino-americana de História Oral. Publicou os livros
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